domingo, setembro 13, 2009

Bipolaridade não é legal

Ontem eu estava tão feliz. Tão rindo à toa. Tudo me fazia bem. Quando eu acordei olhei pra janela e puxei a cortina. Estava nublado – eu não ia poder tomar de sol. Senti meu corpo tão pesado. Todo dolorido. Era ressaca. Não quis ter acordado. Peguei o remédio e fui pra cozinha. Minha mãe não estava feliz. Depois tudo foi se acalmando. Eu fritei batata frita pro almoço. Passei o dia fazendo nada. Meio que estudava, meio que lia, meio que assistia TV, tudo tão preguiçosamente. Ainda não estava chovendo. O tempo estava abafado. Nublado, tinha sol, não tinha sol. Entrou uma abelha no meu quarto. Fiquei 10 minutos pendurada na cama para ajudar ela encontrar a saída da janela. Eu fazia carinho na minha cachorra. Que estava tão amuada quanto eu. Cuidei da minha pele e do meu corpo. Redesenhei meu vestido da formatura com a minha mãe. Era eu, minha mãe e meu pai rindo, reunidos na sala. Aquilo era delicioso. Ainda não me faz chorar. Vi minha mãe beijando meu pai. Mas ele olhava pra TV. Fiz bolinho de queijo. Eu fui buscar uma encomenda lá fora. Mas esse episódio conto separado. Meu cabelo estava macio. Depois minha irmã chegou em casa, conversamos tanto. Tão bem fazia eu rir. Eu comia o leite condensado clandestinamente. Os bolinhos de queijo não tinham muito gosto. A mãe foi dormir. Acabou o dia. Hoje achei que o dia seria bom. Tanto quanto ontem. Mas não. Hoje só lembro das coisas ruins. Olho pro ti e tenho vontade de colocar-te numa caixinha. Esses risinhos alheios me incomodam. E estou suscetível às coisas que roubam minha felicidade. Tudo o que eu achava engraçado ontem hoje não encontro graça. Tudo o que eu achava que podia ontem, hoje não posso mais. Sinto meu coração esmagado contra o fundo do peito, tento gritar, mas me esganam. Não queria estar aqui. E parece que não funciona pensar positivo. O positivo é nulo nesse momento. Eu olho para fora e os ipês têm flores. As azaléias também. No sul do Estado amanhã não chove mais. No norte –cá estou– as azaléias e os ipês rosa, amarelos e roxos continuarão a cair. A chuva fará um tapete afogado. Estava alheia ao tempo porque em determinada hora soaria o sinal.
“Life and death, energy and peace.
If I stop today, it was still worth it.
Even the terrible mistakes that I have made and would have unmade if I could.
The pains that have burned me and scarred my soul.
It was worth it for having been allowed to walk where I've walked which was to hell on Earth, heaven on Earth, back again, into, under, far in between, through it, in it and above.”
Gia Marie Carangi 1960 - 1986

Nenhum comentário:

Postar um comentário