domingo, novembro 15, 2009

“Tudo é acerto, principalmente quando se está mais perto do fim do que do começo”

Eu tava lá olhando pra todas aquelas provas, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª, 8ª série. Eu tava olhando as minhas notas, as professoras que eu tive. Eu pensei que eu estudei no mesmo colégio desde 1997. Faz 12 anos que eu entro no mesmo portão, cumprimento o mesmo tio Aldo, ando pelos mesmos corredores, vou à mesma biblioteca, corro pelo mesmo pátio, e vou ao mesmo bar (com aqueles quadros da semana da escola de 1995, desbotados, e aquele quadro de São Francisco de Assis que algum animal consegui quebrar o vidro). Cada assinatura, cada tipo de certo, cada tipo de questão. Me fez lembrar a sala que eu estudava em cada série. Cada trabalho, cada palavra ruim que foi dita a mim. Como eu guardo lembranças ruins. Cada vez que eu senti vontade de dar uma boxada na cara daquela vaca. Era um seis e dois 8 e eu continuava a ser uma aluna ruim pra ela. Pois bem, eu tive que te agüentar por 4 anos seguidos me dando aula de matemática, e eu aqui, rezo por todos os teus atuais aluninhos que eles não desenvolvam o mesmo tipo de loucura que eu tenho por ter sido tua aluna. Eu sei que tu vai voltar muitas vidas para corrigir tudo o que tu já fez de maldade nessa vida. Mas graças a Deus que eu não precisarei mais te olhar. Quando eu entrei no primeiro ano eu tinha um trauma muito grande de ti; cada vez que cruzava os corredores contigo eu sonhava de noite. Agora quando tu passa eu e minhas colegas rimos de ti, pelas costas sim. Creio eu que um professor gostaria de ser lembrado com carinho, e não como uma megera que nunca ensinou nada. Como teve as péssimas, teve as boas professoras. Quando eu vi minhas notas em inglês, percebi que tive uma boa base. Minhas notas na 5ª, 6ª e 7ª série em história eram muito boas também. Era a Edicarla, a Sintiagly e a Sônia as minhas professoras. Dessas eu senti falta, tanto de todas as notas acima de 8,5 quanto do jeito de ensinar delas. Algumas profes eu tenho no orkut. Aí tu entra no ensino médio, era tudo diferente. A liberdade que eu ganhei foi imensa. E agora são todos professores, homens. A direção não é mesma. Os corredores foram parar no andar debaixo. Dá pra destruir a sala. Dá pra gritar nos corredores. Dá pra ir sem uniforme. Dá pra passar gloss, comer o lanche na sala. Dá pra conversar a aula inteira. Dá pra dormir a aula inteira. Dá pra não fazer nada, nem tema, nem trazer assinatura dos pais, não tem bilhete na agenda. Dá pra falar palavrão e discutir com os professores. Dá pra passar a aula inteira trovando. Dá pra fazer brincadeiras, nada é levado tão a sério (ok, vestibular sim). Os professores são teus amigos e fazem piadinhas da tua cara, e isso é bom, não é humilhante. Dá pra ser tu, sem exagero, dá pra ser tu sem ficarem te cobrando. É impossível não se tornar mais responsável e independente, 15 anos é a pior idade. Tu acha que pode tudo, mas ainda é criança. E se olho pra trás e não gosto de muitas coisas que fiz, já tá feito e aprendi. Se foi na base no empurrão, sei lá. Quando vi minhas provas, minha letra horrível, torta. Minhas redações, meus 9,9 sofridos em provas de matemáticas, as humilhações que um professor nem imagina (ou não) fazer um aluno passar, a minha sexta série inteira chorando na sala da coordenadoria, os tombos nas escadas, os trabalhinhos expostos, eu tão pequeninha. Na hora do recreio da tarde eu sento nos bancos e vejo as crianças com seus amiguinhos correndo e gritando, os tênis que ascende luzinhas, os potes de lanche batendo, as meninas brigando com os meninos. Não sei se me dá alegria, não sei se eu tenho desesperança. É triste pensar assim, mas eles têm as vidinhas deles e eles não sabem de nada, e nem eu ainda sei de nada, e eles vão crescer, e eles terão que bater a cara, e eles sofrerão tanto. Dizendo isso me parece que não vale a pena viver. E eu ainda to aqui. Me entristecendo ao escrever sobre isso. Porque eu me formei no ensino infantil, no fundamental e agora no médio. E agora eu tenho que seguir em frente e puta que o pariu isso é tão difícil; essa quebra de rotina de levantar às 15 pras sete da manhã e ver as mesmas caras de sempre. E me matar(?) estudando e tirar notas boas, e passar cola na mesa. Mesmo não falando muito com alguns colegas e detestando a presença de outros, é do conjunto que eu sinto falta. No início desse ano minha turma era o terceirão, e pra mim a gente não tava fazendo jus à isso. Mas chegou a metade do ano e tudo ficou do jeito que tinha que estar: eu falando com todo mundo, me abrindo a novas amizades, me fodendo nas notas, agitando nos corredores, festas, discussões, idéias aceitas. E essa formatura não teve coisa melhor. Desde as 7 horas da colação até às 7 horas do café da manhã do dia seguinte, com o dia amanhecendo e eu não me agüentando de felicidade, do lado de quem eu sempre estive. Eu amei esse ano; essa 231 marcou e eu sei que não foi só pra mim.

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