quarta-feira, dezembro 22, 2010

Dezoito anos

Quando estou com meus pais me permito ser criança. Eles que pagam. No restaurante, no shopping, no bar, no táxi, pra fechar a casa. Responsabilidade deles. Não é egoísmo. Não é que não ajudo. Mas cansa ficar atenta a tudo e a todos o tempo todo. Se o cartão de crédito passou , se o troco tá certo, se as janelas estão fechadas, o alarme do carro ligado. Não quero mais ser independente, não quero ser adulta. Não quero ter juízo. Quero dizer pra sempre ‘e daí?’ Sou adulta porque tenho 18 anos na cara? O escambau. Meu quarto é rosa, tenho bonecas na cama, gosto de tudo que é colorido e que brilha. Mas abandonei meus all star e minhas blusas estampadas.
Só não quero essa cobrança toda.


“Adolescente é buzinado dia e noite: tem que estudar para o vestibular, aprender inglês, usar camisinha, dizer não às drogas, não beber quando dirigir, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar dezenas de paixões fulminantes e rompimentos. Não tem grana para ter o próprio canto, costuma deprimir-se se segunda a sexta e só se diverte aos sábados, em locais onde sempre tem fila.  Depois dos 30, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se no inglês, francês, no italiano e no iídiche, e ai de quem rir do seu sotaque. Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, enjoou do cheiro da maconha, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila pó uma Sansonite e não precisa de autorização de ninguém para assistir o canal da playboy.”  (Martha Medeiros in: Trem-bala)
“Crescer custa, demora, esfola, mas compensa. É uma vitória secreta, sem testemunhas. O adversário somos nós mesmos.” (Martha Medeiros)
“As mulheres tem problemas com a idade; todas – e em qualquer idade. Aos 18 elas se acham velhas, aos 22, caquéticas e, aos 30, mesmo as que nunca ouviram falar de Balzac, acabadas. E assim vão sofrendo por um tempo que não volta mais.” (Danuza Leão. O melhor momento, in: As aparências enganam)
“…porque já tenho dezessete anos, quase dezoito, e nenhuma vergonha na cara, meu sargento, nenhum amigo, só esta tontura seca de estar começando a viver, um monte de coisas que eu não entendo, todas as manhãs meu sargento, para todo o sempre, amém.” (Caio Fernando Abreu. Sargento Garcia, in: Morangos Mofados)

P.S.:  fiz 18 anos no dia 9 desse mês. Sinto-me velha.

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