sexta-feira, janeiro 30, 2009

Dirá nada

Eu sei que posso. Mas eu não estou conseguindo. Pode ser que agora vá. Sinto que meu silêncio fala mais do que minhas palavras. Meus olhos vazios. Não sinto nada. Olhar no espelho quando nos dias em que eu não nasci me esvazia. Rebaixa-me para um nível subjacente. O outro plano. E eu fico vegetando até que algo aconteça. Eu não vou atrás. O algo acontece assim mesmo. E não é como viver de novo. Um dia morto é um dia morto. Não se pode ser normal depois que se acorda morto. Vem um impulso. Um dia eu resolvi fazer só o que era meu. Nesse dia tudo o que importava era o meu eu. Eu, minhas coisas, meus pensamentos. Parava onde começava meus amigos. Os meus amigos já não eram mais meus. Era a vida deles, e não a minha – pois não me cabia.
Eu lembrei que eu podia me amar. E eu pensei: EU ME AMO. Queria ter me vestido de bailarina, pintado minha cara e ter saído dançando plié e pas de bourré. Deu-me saudade de quando eu desenhava na aula as pontas da sapatilha. Mas eu desisti das aulas. Não era bailarina que eu queria ser. Assim como eu desisti das aulas de pintura. Minha tela de joaninha foi o desenho mais ridículo que eu já fiz. Não queria mesmo ser artista plástica. Nem ser patinadora profissional. Nem nada. Eu queria ser alguma coisa. Eu quero ser alguma coisa. Mas eu não consegui, mas eu não consigo. Todos os dias que eu acordo morta eu perco mais um dia para ser alguém. Eu não consigo sair de casa. Minha casa. Meu quarto. Meu eu. Parecem ser tão confortáveis que a cidade – que é de todos – não me atrai. Nesse dia que eu quis voltar a ser bailarina eu me senti tão pequena. Tão inocente e tão frágil quanto eu tinha 9, 10 anos. Eu não ficaria mais reta dentro da malha cor-de-rosa. Minha saia de tule não fecharia mais na minha cintura. A meia não chegaria dois palmos acima do joelho. A sapatilha eu perdi... Eu quis voltar ser uma criança. De vez em quando dói demais não ser mais pura. Foi quando eu percebi isso que eu comecei a acordar morta.

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